Turismo na Catalunha (Ted)
Chamar a Europa de Velho Continente é de fato uma designação repleta de sentidos, pois além de ser um continente que possui séculos de história e resquícios de civilizações e acontecimentos cuja importância reflete até os dias atuais, é também um continente que transmite ancestralidade através de ruas, museus, achados arqueológicos, ruínas e paisagens naturais. Na península ibérica, a Espanha é um país em que sentimentos atemporais é capaz de proporcionar ao viajante uma aula de história ao mesmo tempo do turismo.
A Equipe brasileira do Projeto Turismo e Arqueologia, cujos trabalhos realizados na cidade de Girona, na região da Catalunha (Espanha) fora apresentado na edição de sábado passado da A Tribuna, durante os 10 dias que permaneceram no Velho Continente pesquisando e apresentando resultados obtidos em relação aos sítios arqueológicos que estudam viabilizar para o turismo de Piracicaba e região, também se deslocaram à outras partes da Catalunha.
Ao nordeste da península Ibérica, a comitiva brasileira do Projeto se deslocou à Catalunha, considerada uma comunidade autônoma da Espanha, muito influenciada pela civilização romana. Girona, cidade base da Universidade de Girona, onde atuam os quatro profissionais espanhóis do Turismo & Arqueologia, está localizada há 60 quilômetros da França e a língua oficial é o catalão, uma mistura de espanhol como o próprio francês. De acordo com moradores do local, e estudiosos lingüísticos, o catalão deriva do latim e se desenvolveu por volta do século IX.
Entretanto, o primeiro povoamento na Catalunha data a época pré-histórica do Paleolítico Médio (mais de 300 mil anos atrás), comprovada através do achado de uma mandíbula de um homem pré-neandertal, na região de Banyoles. A peça está exposta no Museu de História Natural de Banyoles, que pertence a província de Girona. O achado arqueológico está ligado a lenda do “negro de Banyoles”, que em 1830, uma naturalista francês desenterrou um corpo de um indígena recém cremado. Apropriaram-se do corpo e o dissecaram. Anos depois, descobriram que o homem pertence a Botsuana, na África. Existe até hoje um impasse político entre Espanha e Botsuana para que o corpo retorne ao seu lugar de origem.
E a própria cidade base do Projeto, Girona, é uma aula de história a céu aberto. Localizada em uma região outrora estratégica dentro do Império Romano, a cidade era constantemente alvo de invasões e conseqüentes destruições. Para reforçar a segurança do lugar, foi construída ao redor de Girona uma muralha. Com mais de cinco quilômetros de comprimento, a arquitetura foi restaurada na contemporaneidade e se tornou um dos principais atrativos turístico da cidade, em que a pessoa pode percorrê-la de ponta a ponta e ter uma bela visão da cidade.
O pedaço remanescente da muralha romana está localizado no “Bairro Velho” de Girona, dividido do “Bairro Novo” pelo rio Onyar. Foram construídas várias pontes que possibilitam o acesso das pessoas de um bairro para o outro, cuja panorâmica é o mais tradicional cartão postal da cidade. Em ambas as margens do rio existem prédios antigos e coloridos, cenário que inspirou muitos artistas da Catalunha e cuja história está devidamente contada no Museu d´Història de la Ciutat (Museu de História da Cidade).
O Bairro Velho é essencialmente constituído por arquiteturas antigas. Enormes catedrais, como a Catedral Central (uma edificação de diferentes estilos, entre os séculos XI e XVII) e a Igreja de São Felix (estilo gótico dos séculos XIII e XV), que são dois monumentos visíveis de qualquer ponto de Girona, de tão grandes e imponentes. No interior da Catedral e da Igreja existem museus com peças sacras e enormes altares, além da própria estrutura. São pontos que recebem visitas de turistas durante todo o dia, inclusive no período noturno, pois recebem iluminação especial para realçá-las.
Ainda no “Bairro Velho”, e aonde os quatro brasileiros do Projeto Turismo & Arqueologia se hospedaram, o centro histórico localiza-se num antigo reduto de judeus. O El Call, conhecido como o principal quarteirão judeu, é um labirinto de ruas de pedra e guetos. Toda a história e importância da comunidade judaica que habitou Girona até 1492 está no Museu d´Història dels Jeus (Museu de História dos Judeus), que fica na Rua La Força, exatamente ao lado do apartamento que abrigou a comitiva do Projeto. Um campus da Universidade de Girona também no “Bairro Velho”, entretanto, possui uma infro-estrutura de ponta, apenas a fachada dos prédios é que se mantêm nos moldes da arquitetura antiga.
Porém, Girona não é apenas história. Ao atravessar uma das pontes sob o rio Onyar chega-se ao “Bairro Novo” e eis uma cidade contemporânea e altamente desenvolvida. Grandes estabelecimentos comerciais, prédios, empresas de renome mundial, mais museus e lugares de lazer requintados. Essencialmente Turística, Girona tem uma população com cerca de 75 mil habitantes em uma superfície de 38,38 quilômetros quadrados. A cidade ainda dispõe de aeroporto e estação ferroviária. Com apenas seis euros (aproximadamente R$ 17) é possível, em uma hora de trem, chegar a Barcelona.
A parada final em Girona é a estátua da Leoa, datada do século XII. Existe uma lenda que toda pessoa que visita a cidade deve beijar o traseiro do animal empedrado para, um dia, retornar. O monumento está no “Bairro Velho” próximo do centro comercial, mas nada inibe os turistas que sobem uma escadinha devidamente pensada para o ato do beijo. E os moradores de Girona fazem questão de acompanhar o turista para o tradicional “beso en el cul de la Lleona”.
Como parte da viagem a Espanha, ou a Catalunha, a comitiva brasileira do Projeto saiu da fantástica Girona e realizou visitas técnicas (e claro, turísticas) a cidade de Empúrias, Figueres, Serenyà, Barcelona. Localizada na Costa Brava, o litoral mediterrâneo na Catalunha, Empúrias foi fundada em 575 antes de cristo pelos gregos da região de Phocaea. O nome Empúrias deriva de Empório, que significa mercado. Mais tarde, a cidade foi ocupada pelo Império Romano e posteriormente deixada em ruínas durante a Idade Média.
Empúrias, no entanto, é um importante centro turístico da Catalunha devido o sítio arqueológico descoberto em 1908. Transformado em local turístico, Empúrias abriga ruínas de cidades nos moldes gregos e romanos, um museu com artefatos da época e com vista para o Mar Mediterrâneo. A pé, o visitante pode adentrar as ruínas e sentir o ar histórico na pele ao caminhar entre os resquícios do passado que estão lá tão evidentes e devidamente restaurados.
Erick Tedesco (Ted) é Jornalista/Assessor de Imprensa (MTB-48.163) na Tribuna Piracicabana (www.tribunatp.com.br)